Queridos alunos e amigos...


A CRIATIVIDADE É UMA FORÇA QUE DORME DENTRO DA GENTE!


MAS, PODE SER ACORDADA DE VÁRIAS MANEIRAS


PORÉM, MOTIVAÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO SÃO OS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS PARA ESSE "ACORDAR"!

SEJAM BEM VINDOS!


PROFESSORA ROSANE SANTOS

domingo, 3 de junho de 2012

RIO + 20 - CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - PROFESSORA ROSANE SANTOS

 

“Não há desenvolvimento sustentável num mundo castigado pelas mudanças do clima”


Eduardo Felipe Matias é sócio responsável pelas áreas internacional e de sustentabilidade do escritório Nogueira, Elias, Laskowski e Matias Advogados. Escreveu o livro A Humanidade e suas Fronteiras: do Estado soberano à sociedade global, ganhador do Prêmio Jabuti em 2006. E continua pesquisando o tema. Em entrevista ao Blog do Planeta, ele conta por que as mudanças climáticas viraram a prioridade para a Rio+20.
ÉPOCA: O que podemos esperar da Rio+20?
Eduardo Felipe Matias: Menos do que se deveria, considerando a urgência do momento atual e o foco que tem sido dado até agora para a Conferência. Os dois temas principais que serão tratados na Rio+20 – a economia verde e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável – são essenciais. O problema é que, em cada um deles, o enfoque deveria ser um pouco diferente. A economia verde não irá vingar enquanto não se passar a considerar, na formação do preço dos produtos e dos serviços, os custos sociais e ambientais das emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa. Quando isso acontecer, produtores e consumidores serão induzidos a optar por produtos baseados em tecnologias de baixo carbono. A atribuição de um preço ao carbono poderia ocorrer de diversas maneiras – sendo que a mais promissora parece ser a criação de impostos nesse sentido. Essa é uma discussão, no entanto, que parece que irá passar longe da Rio+20.
ÉPOCA: Qual é a utilidade de reformar a ONU?
Matias: Essas discussões são o outro tema principal da Conferência. O debate é fortalecer o Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA) ou criar uma nova agência nos moldes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ou da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, o sistema interestatal não tem condições de promover sozinho a sustentabilidade global. A governança do desenvolvimento sustentável depende de diversos atores, como as empresas transnacionais, as organizações não governamentais e vários outros diferentes níveis de autoridade com capacidade de emitir regras que são seguidas por seus membros, muitas vezes voluntariamente. A Rio+20 deveria contribuir para a criação de um ciclo virtuoso da sustentabilidade que estimulasse a ação de todos esses níveis de autoridade. Por isso, seu foco não deveria se concentrar apenas na ação direta dos governos nacionais, mas na indução e na regulação dos comportamentos desses outros atores.
ÉPOCA: A Rio+20 trará resultados concretos ou será mais um avanço simbólico?
Matias: O panorama que está se desenhando é o de que, se houver algum resultado significativo, este será a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Seriam metas concretas que os países se comprometeriam a alcançar em áreas importantes como energias renováveis, uso da água etc. Ainda que não se tenha tempo de definir em detalhe todas essas metas durante a Conferência, se os países mostrarem uma vontade firme de estabelecê-las em um futuro próximo – fala-se em 2015 – esse seria ao menos um avanço simbólico importante.
ÉPOCA: Para que servem os objetivos de desenvolvimento sustentável?
Matias: O êxito da economia verde depende menos dos governos e mais das empresas – é importante lembrar que o setor privado é responsável por 70% da economia global. Sem empresas verdes não há economia verde.
Algumas empresas têm se antecipado e adotado práticas sustentáveis, confiando que estas em algum momento se tornarão obrigatórias. Acredito muito no papel desses vanguardistas nesse processo. Essas empresas tendem a pressionar os governos para que lhes assegurem condições para avançar rumo a modelos de negócios mais sustentáveis, sem perder sua capacidade de competir. Logo, os governos se comprometerem com alguns objetivos relacionados ao desenvolvimento sustentável é um elemento muito favorável para esse movimento, contribuindo para o ciclo virtuoso da sustentabilidade a que me referi anteriormente.
Isso porque, para que um grande número de empresas invista em “esverdear” a sua produção, estas precisam ter certeza de que a economia local e mundial caminha na direção de assegurar benefícios àqueles que apostarem em tecnologias de baixo carbono e penalizar aqueles que não o fizerem. Os ODS seriam um forte estímulo nesse sentido.
ÉPOCA:Como comparar a Rio+20 com a Rio92?
Matias: Primeiro, são duas conferências diferentes em sua preparação. A Rio92 foi o ponto final de um processo de negociação que estava mais avançado e resultou em documentos como a Convenção do Clima e a Convenção da Biodiversidade. Já a Rio+20 tem sido vista como o ponto de partida para novas discussões sobre o desenvolvimento sustentável. O momento das duas é também bem diferente. A maior mudança talvez tenha ocorrido no plano da geopolítica e da economia. Alguns países que apenas assistiam aos debates há 20 anos hoje têm influência nas decisões. A ascensão dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) contrastou com a queda na participação dos países da OCDE no PIB mundial. Isso, por um lado, torna as deliberações mais complexas, mas também deixa as decisões mais abrangentes. Tratando-se de meio ambiente, tema que pede o engajamento de todas as nações – o atual é um cenário mais promissor.
Esse engajamento por parte dos países emergentes é, inclusive, necessário. Nos últimos 60 anos, a participação dos BRICs no total mundial de emissões de gases de efeito estufa aumentou de 15% para 35%. Logo, pensando nas mudanças climáticas, não há solução viável sem o envolvimento dos emergentes.
ÉPOCA: As descobertas científicas recentes aumentam a urgência da Rio+20?
Matias: A ciência evoluiu em sua compreensão das mudanças climáticas. Em 1992 esse era um tema que já havia adquirido importância, mas não se tinha ainda ideia da gravidade dos efeitos que a ação humana está provocando no meio ambiente. Hoje a sustentabilidade é um tema que mobiliza um número expressivo de pessoas, a cobrança aumentou e os governantes estão mais pressionados a agir. Isso também é bom.
ÉPOCA: O quanto a crise econômica global pode afetar a Rio+20?
Matias: Essa circunstância pode aumentar a resistência dos Estados Unidos em assumir compromissos fortes – principalmente em ano eleitoral – e deve diminuir o engajamento da Europa, que sempre esteve à frente do movimento pelo desenvolvimento sustentável. Essa liderança poderia, quem sabe, vir a ser ocupada pelos países emergentes – embora estes também pareçam ainda desconfiados de que crescer de forma sustentável é possível, isso sem falar no medo de que a economia verde só iria servir para justificar a imposição de novas barreiras comerciais a seus produtos. Seria, de qualquer forma, uma boa oportunidade para o Brasil aumentar o seu peso no cenário internacional.
ÉPOCA: Quais são os maiores desafios para o mundo hoje?
Matias: Não tenho dúvidas de que o maior desafio é deter as mudanças climáticas.
Nesse sentido, a Rio+20 não poderia deixar o foco em meio ambiente de lado, e não deve, principalmente, varrer o problema das mudanças climáticas para baixo do tapete sob o pretexto de que o foro adequado para tratá-lo é o processo de negociação no âmbito da Conferência do Clima. Se a sustentabilidade depende – e depende – do econômico, do social e do ambiental, o ambiental é o pé desse tripé que está mais bambo. Não há desenvolvimento sustentável num mundo castigado pelas mudanças do clima.
ÉPOCA: Por que as mudanças climáticas viraram o tema ambiental mais relevante?
Matias: Porque praticamente todos os outros graves problemas ambientais estão a ela interligados.
Recentemente, um grupo de cientistas do
Centro de Resiliência de Estocolmo chegou à conclusão de que as pressões que a ação humana exerce sobre o sistema terrestre alcançaram uma escala na qual uma mudança ambiental global abrupta ou irreversível não pode mais ser descartada. Esses autores definiram “limites” ou “fronteiras” planetários que, se ultrapassados, poderiam trazer efeitos catastróficos para a humanidade. Essas 9 fronteiras são as seguintes: poluição por produtos químicos; acidificação dos oceanos; acúmulo de aerossóis; consumo de água doce e ciclo hidrológico global; camada de ozônio; mudança do uso da terra; interferência nos ciclos globais do nitrogênio; taxa de perda da biodiversidade; mudança climática. Eles estimam que esses três últimos limites já foram ultrapassados. Claro que todos esses são problemas importantíssimos, que merecem máxima atenção. Porém, de todos eles, o da mudança climática me parece o mais grave, porque é aquele em que, mais claramente, nos aproximamos de alcançar o ponto de não retorno – se é que isso já não ocorreu, como defendem esses cientistas. E é um limite que tem efeitos sobre diversos outros. Por exemplo, há estudos que afirmam que uma mudança radical do clima, que venha a alterar o regime de chuvas na região amazônica, podem levar a um processo de savanização da floresta, com sérias consequências para a sua biodiversidade. Por isso, o combate às mudanças climáticas deveria ser visto como prioridade. O atraso em fazê-lo pode agravar todos os outros problemas ambientais.
ÉPOCA: E a erradicação da pobreza?
Matias: Também um assunto urgente. A miséria e a fome são a maior vergonha da nossa civilização. No entanto, qualquer avanço na área do combate à pobreza será rapidamente anulado em um mundo em desordem ambiental. Os efeitos econômicos e sociais de secas ou inundações anormais, de tempestades que devastem habitações e plantações, são sentidos mais intensamente pelos mais pobres. Por isso, é preciso pensar, muito mais do que vem sendo feito até hoje, na adaptação que será necessária para aliviar os danos que as mudanças climáticas poderão trazer para alguns países. E evitar essas mudanças não é tarefa fácil, daí o tamanho do desafio. Implica grandes transformações em diversas áreas, como transportes, agricultura, energia. Nesta última, por exemplo, a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis é um processo complicado, cujo sucesso depende de inovações que aperfeiçoem e barateiem as tecnologias existentes, e talvez não seja bem sucedido sem a invenção de novas tecnologias. Isso demanda investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento por parte dos governos e das empresas. Vencer esse desafio requer também mudanças no comportamento de toda a sociedade, em um esforço concentrado como nunca antes se viu na história da humanidade.
ÉPOCA: Diante de uma grande crise financeira atual, com as maiores economias do mundo andando de lado, faz sentido discutir crescimento sustentável do ponto de vista ambiental e social?
Matias: Faz todo o sentido. Costumo dizer que a crise ambiental e a crise financeira são faces da mesma moeda, porque os mesmos incentivos e motivações equivocados que levaram a uma nos conduziram à outra. Ambas resultam de vivermos acima de nossas possibilidades, sejam elas econômicas, sejam elas ambientais.
Sem mudar esses incentivos, viveremos uma nova crise financeira e não evitaremos a crise ambiental ou a crise social.
ÉPOCA: Nem se esses incentivos levarem ao crescimento agora?
Matias: De nada adianta continuar crescendo – ou voltar a crescer – nos moldes atuais. Não podemos nos esquecer da origem da expressão “desenvolvimento sustentável”. Ela só passou a ser utilizada porque, em determinado momento, notamos o risco de continuar crescendo com base em uma demanda por recursos naturais que supera a capacidade de regeneração do planeta. Quando se fala em atender as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender as suas próprias necessidades, o que se quer dizer é que o desenvolvimento que prejudica o ambiente afeta também o desenvolvimento futuro. Só que o grau de destruição da natureza foi tamanho nas últimas décadas que não é apenas o desenvolvimento das gerações futuras que está em jogo. As gerações atuais já irão sofrer os efeitos desse crescimento insensato. Por isso, é fundamental que, ao procurar atender as demandas atuais, como a geração de empregos, esse esforço esteja alinhado com a preocupação em preservar os recursos do planeta. Pior que uma crise econômica, só uma crise econômica acompanhada por desastres ambientais.

(Alexandre Mansur)

“A Rio+20 está atrasada. Voltamos ao debate pré 1992″


A um mês da Rio+20, ainda há pouca clareza do que o encontro trará de concreto. A falta de consenso vai desde as características da economia verde até como a ONU tratará o assunto daqui para frente. De um lado, há quem acredite que o desenvolvimento sustentável deve tratar mais das questões sociais, para acabar com a pobreza. E há quem defenda que seja mais verde. Focando na preservação da natureza, dos recursos naturais e na baixa emissão de carbono.
Para André Carvalho, professor da Fundação Getulio Vargas e pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), essa divisão no debate é uma perda de tempo. O desenvolvimento sustentável já foi definido em 1987 e, agora, é hora de colocar o assunto como a pauta mais relevante nos governos para a tomada de decisões e criações de leis que tenham impacto no futuro da Terra. Nesta entrevista, ele fala da importância da Rio+20 para os rumos desse assunto.
ÉPOCA: Um dos temas que a Rio+20 discutirá é “Economia Verde no contexto da preservação do meio ambiente e da biodiversidade, na perspectiva da erradicação da pobreza e das desigualdades”. Estamos mesmo preparados para uma mudança nos processos econômicos?
André Carvalho: Caminhos para uma economia verde têm avançado. Com a Rio+20, isso pode ganhar força à medida que o desenvolvimento sustentável ficar mais elevado na hierarquia dos governos e da ONU. O grande desafio é que seja cada vez mais abordado intensamente em órgãos como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. De que adianta a gente falar que é preciso incluir o assunto nos governos, se os órgãos que estão fortemente ligados às questões de governança e de economia, o desenvolvimento sustentável continua parado no preâmbulo das missões e fica só na teoria?
ÉPOCA: O que se tem debatido no âmbito da economia verde?
Carvalho: Um debate que eu tenho acompanhado nessa pré-Rio+20 é se a agenda deve ser mais econômica e social, ou mais econômica e ambiental. Separar isso é perda de tempo. É ótimo aumentar a oferta de energias renováveis porque se reduzem emissões de gases do efeito estufa. Mas isso também significa dar segurança a países não-desenvolvidos, onde as mudanças climáticas têm maior impacto, ameaçam a segurança da agricultura se causar uma seca extrema, ou fortes chuvas fora de época.
ÉPOCA: E a Rio+20 terá força para colocar a economia verde na pauta do mundo todo?
Carvalho: Um evento com a representatividade de uma Rio+20 tem o poder de gerar documentos com manifestações concretas apontando para as necessidades que o desenvolvimento sustentável se torne mais importante para os governos e organismos multilaterais, como falei da OMC. Mas eu não vejo nas ambições, pelo menos do Brasil, um interesse em fazer que isso seja debatido e seja um dos resultados. Estão falando na possibilidade de criar um novo órgão na ONU voltado ao desenvolvimento sustentável, como a OMC é para o comércio. Isso é representativo, mas não sei vai resolver os problemas e colocar a economia verde na pauta.
ÉPOCA: Esse novo órgão não iria gerar mais burocracia às negociações? Ou daria mais força para resolver as pautas ambientais?
Carvalho: Eu não priorizaria essa criação. O desenvolvimento sustentável tem que subir na hierarquia dos órgãos já existentes. O preâmbulo da OMC diz que o comércio tem que ser orientado com o uso sustentável dos recursos, então, a ideia de sustentabilidade está lá na teoria. Mas não está na prática. A OMC restringe a exportação de gasolina que emite enxofre acima de um limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. Faz isso pensando no bem-estar do povo do país que importa. Mas não há restrição para produtos de madeira que venham de desmatamento ilegal. É como se a OMC falasse para os países em desenvolvimento: “seja competitivo, venda produtos a qualquer custo, mesmo que impacte no meio ambiente”. Isso é um debate dos anos 90. A OMC precisa começar a considerar restrições sobre as formas de processos produtivos. Mas não está no debate da Rio+20. Poderia pelo menos fazer com que o tema seja tratado num documento final, isso é mais importante que criar um órgão de governança para o desenvolvimento sustentável.
ÉPOCA: O que você espera da Rio+20?
Carvalho: Um evento como esse deve apontar pra onde a discussão da sustentabilidade deve ir. Não é para olharmos o retrovisor e nos lembrarmos dos eventos do passado, e sim, para apontar para onde devemos ir com base nos desafios que surgiram nos últimos anos.
ÉPOCA: E quanto à urgência?
Carvalho: Não. Já estamos muito atrasados para discutir uma economia de baixo carbono. O perigo de não sair nada na Rio+20 só reforça a angústia de quem trabalha com a sustentabilidade há pelo menos uma década. Vem uma conferência importante e pode tratar de temas novos e desafios, só que ainda estamos discutindo como vai ser a nova economia. Se é mais ambiental ou mais social. Não estamos atrasados só em relação à mudança do clima e da segurança da biodiversidade. Estamos atrasadíssimos na agenda da erradicação da pobreza, sobretudo no combate à desigualdade social. Celso Furtado já tratava de saídas para a pobreza nos anos 60. O 1º relatório de desenvolvimento humano é de 1990, é um marco ao dizer que desenvolvimento de uma nação não se mede apenas pelo PIB e renda per capita. O conceito de desenvolvimento sustentável é de 1987, está no relatório Nosso Futuro Comum, que ligou os temas sociais e ambientais como um tema só. A conferência da Rio-92, que veio para aprofundar isso, já tem 20 anos e a gente ainda não conseguiu fazer com que esse tema fosse representativo nas decisões diárias dos governos. Estamos atrasados e ainda ficamos falando “o desenvolvimento sustentável deve proteger o meio ambiente” ou “não, deve acabar com a pobreza”. O tempo está passando e não conseguimos fazer com que algo que já foi objeto de consenso ganhe representatividade. Existem avanços de 92 para cá. Até fico otimista pensando que podemos avançar mais. Só que ao mesmo tempo, temos que avançar com uma velocidade muito mais rápida. E qual é o indicador pré-Rio+20? É que voltamos ao debate pré-rio92.

(Thais Herrero)

ONU lança ferramenta para facilitar troca de ideias para Rio+20

O Centro de Informações das Nações Unidas para o Brasil lançou hoje no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, sua mais nova ferramenta para mobilizar a sociedade civil a participar da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
O site O Futuro que Queremos já está no ar em português e pretende facilitar a “maior conversa global da história”. Todo e qualquer indivíduo poderá expor suas ideias na plataforma.
A iniciativa já existe em outros países e teve mais de 85 milhões de visualizações em abril. “O site não tem data de expiração e precisa ir mais além do que o dia 23 de junho, quando termina a Rio+20″, diz Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas. “O evento não será apenas uma reunião de governos, a sociedade civil precisa estar presente das mais variadas formas.”
No Brasil, a campanha Eu Somos Nós começa a partir de amanhã a promover este bate-papo planetário. “A campanha não acontece apenas na internet”, afirma Sergio Amado, presidente do grupo publicitário Ogilvy Brasil. “Todas as mídias terão a oportunidade de transmitir a mensagem, participando de forma voluntária”. Ilustres desconhecidos e personalidades como Gisele Bündchen, Ronaldo, Oscar Niemeyer e Paulo Coelho emprestaram sua imagem para a iniciativa.
Outra ferramenta anunciada hoje foi o site Agenda Total, uma plataforma que pretende reunir na internet todas as informações sobre a Rio+20, desde a agenda de centenas de eventos às reuniões e conferências online. “Será o ponto de encontro da Rio+20 na rede”, diz Silvana de Matos, coordenadora da Agência Total. “Mais de 10 mil logins e senhas serão distribuídos às autoridades, à imprensa e aos representantes da socidade civil.”
Giancarlo Summa também anunciou que 183 países (dos 193 reconhecidos pela ONU) já confirmaram a presença no “maior evento da história das Nações Unidas”. “Os preços altos dos hotéis no Rio de Janeiro não esvaziarão a conferência.”

(Haroldo Castro)

Jean Michel Cousteau: “estamos usando o oceano como um grande esgoto”


“Quando você bebe um copo de água, na verdade está bebendo o oceano”. A frase é praticamente um lema do mergulhador, documentarista e ambientalista Jean Michel Cousteau. E ele diz isso com propriedade: Jean Michel foi nada menos do que a primeira criança a mergulhar no oceano usando um aparelho para respirar debaixo d’água, quando tinha apenas 7 anos, com o aqualung, invenção de seu pai, o famoso explorador francês Jacques Cousteau.
Jean Michel segue os passos do pai: faz vídeos mostrando o oceano ao grande público em uma série na TV pública americana PBS, e comanda uma organização em prol do meio ambiente e dos oceanos, a Ocean Futures Society. Fez expedições ao rio Amazonas, mergulhou no Golfo do México para ver os impactos do vazamento de petróleo da BP, e disse estar assustado com os riscos que o Brasil está se expondo ao explorar o Pré-sal e ao construir hidrelétricas na Amazônia.
Jean Michel esteve no Brasil em abril, promovendo a sua organização e o livro “Jacques Cousteau: o rei dos mares”, de Brad Matsen, livro que, segundo ele, é um dos poucos a contar a verdade sobre seu pai, enquanto a maioria das biografias no mercado tratam apenas de “fantasias inventadas”. Em entrevista a ÉPOCA, Jean Michel conta que as orcas são seus animais favoritos, e que é hora de os políticos pararem com o blablabla e tomarem uma decisão concreta para o meio ambiente na Rio+20.
ÉPOCA – O senhor está aqui no Brasil promovendo a Ocean Futures Society. Como é o trabalho dessa organização?
Jean Michel Cousteau -
A Ocean Futures Society está focada basicamente em três pontos. O primeiro é comunicação com o público, o que fazemos geralmente pela televisão, e agora pela internet. É uma forma de levar entretenimento e educação, mas de certa forma um pouco superficial, porque estamos buscando uma audiência mais ampla. O segundo ponto é educação. Nós temos um programa chamado Embaixadores do Meio Ambiente, em várias partes do mundo, em navios, hotéis, universidades, etc. Nós estamos buscando educar aqueles que, no futuro, serão os tomadores de decisões. O outro programa está em processo de adaptação, mas a ideia é trabalhar com sustentabilidade nas florestas. Quando eu fui para a Amazônia pela primeira vez, em 1981, quase não havia pessoas na floresta. Nós podíamos passar dias sem encontrar ninguém. Hoje, nós vemos pessoas na mata o tempo todo. Essas pessoas se mudaram para a Amazônia buscando um lugar para sobreviver, para cuidar de suas famílias. Nós queremos ajudá-las, queremos prover informação e educação para que elas possam tomar melhores decisões. Há muitas coisas que podemos fazer. Agora, quando eu digo nós, não estou falando de mim, estou falando dos próprios brasileiros, e por isso queremos educar a população local.
ÉPOCA – No site da organização, o senhor diz que quer “documentar a conexão crítica entre homem e natureza”. O que é essa conexão crítica?
Cousteau -
Devido ao progresso, nós, como espécie, nos disconectamos do nosso sistema de suporte da vida. Nós achamos que podemos decidir tudo. Não é verdade. Nós somos totalmente dependentes, e a qualidade das nossas vidas é a qualidade do meio ambiente. Na próxima vez que você tomar um copo de água, lembre-se que está bebendo o oceano. Só há um sistema de água, e nós estamos usando esse sistema como esgoto. Não falo só do lixo visível: nosso sentido principal é a visão, e por isso nós só vemos as garrafas de plástico no oceano. É um grande problema, mas há muitos outros, muito mais importantes, como soluções químicas, metais pesados. Quando você toma uma aspirina para cuidar de uma dor de cabeça, para onde essa química vai? Vai para o oceano. Chumbo, mercúrio, no final tudo vai parar no oceano. Só há um sistema no planeta, e ele está todo conectado. Não há lixo na natureza, exceto o que nós estamos fazendo, e isso está afetando o sistema que permite a vida. Nós vemos isso na África, na Índia: todos os dias, pelo menos 5 mil crianças com menos de 5 anos de idade morrem porque não há água, ou a água está poluída. Isso precisa mudar. A
Rio+20 deveria ser a oportunidade para que tomadores de decisão do planeta mudem isso. Nós poderíamos mudar isso hoje. Não precisamos esperar por bilhões e bilhões de dólares para isso. Não. Nós podemos fazer agora.
ÉPOCA – O senhor vai participar da Rio+20?
Cousteau -
Eu espero que sim. Meu pai esteve no Rio, 20 anos atrás, com o [ex-presidente americano George] Bush pai, com todos aqueles presidentes de vários países. O que eles fizeram nesses vinte anos? Não muito, né? Mas hoje, o que nós precisamos é de ação. Chega de blablabla! É por isso que eu vejo a Rio+20 como uma oportunidade para tomar ações.
Época – Exatamente que tipo de ações podem ser tomadas?
Cousteau -
É preciso garantir que as crianças tenham acesso a água. Conseguir essa água não é uma tarefa difícil. Nós temos tecnologia para capturar a água e filtrá-la, ou nós podemos simplesmente colocar água potável em barcos e enviar para essas regiões. Custa menos do que o dinheiro que gastamos em armas, exércitos ou, sei lá, no programa espacial. Vamos colocar as prioridades onde elas devem estar. Eu não sou contra o programa espacial, pelo contrário, eu adoro, mas nós precisamos cuidar de nós mesmos primeiro. Não é aceitável que, enquanto nós estamos vivendo com algum conforto, mais de 5 mil crianças estão morrendo. Por isso que nós temos que mostrar, aos tomadores de decisão, o quanto nós somos dependentes do meio ambiente. Nós temos que nos reconectar com a natureza. E a boa notícia é que isso é empolgante! Basta olhar para o oceano, que é 70% do planeta, e nós só exploramos pouco mais de 5%. Nós não sabemos de nada! Cientistas descobrem novas espécies todos os dias. E nós estamos usando o oceano como esgoto. Isso é loucura. Somos loucos! [risos]. Nós podemos mudar isso. Nós podemos capturar o lixo antes de ele chegar ao oceano. Eu estava vendo aqui o rio na cidade [rio Pinheiros, em São Paulo], que era limpo e hoje está bastante poluído. Enquanto não se limpa o rio, que é um processo demorado, podemos evitar que as águas poluídas cheguem ao oceano. Antes de essas águas chegarem ao oceano, a gente captura e limpa. Nós podemos fazer isso. É esse tipo de coisa que precisamos convencer os tomadores de decisão, como os que estarão na Rio+20.
ÉPOCA – Além da poluição da água, os oceanos também enfrentam o problema da pesca excessiva.
Cousteau -
Antes, deixa eu explicar uma coisa: eu estou do lado dos pescadores. Eu como peixe, não sou hipócrita. Mas há vários problemas: primeiro, a gente tira mais da natureza do que ela produz. Segundo, estamos poluindo o ambiente, tornando mais difícil para os peixes se reproduzirem. Terceiro, estamos destruindo os habitats costais, onde está a maioria dos peixes. Ou seja, o problema náo é dos pescadores, mas de todos nós. A demanda nos recursos está aumentando, e natureza está dizendo, ‘desculpe, mas eu não consigo produzir tudo isso’. Nós estamos removendo o capital. Precisamos olhar o ambiente, o oceano, como um negócio. Recebemos o capital, e de graça. Enquanto nós consumimos apenas os lucros produzidos pelo capital, nós podemos continuar para sempre. Mas agora, nós estamos comendo o próprio capital, a caminho da falência.
ÉPOCA – O senhor esteve recentemente no Golfo do México, para fazer filmagens sobre o acidente de petróleo da BP. Como foi?
Cousteau -
Sim, estivemos lá e devemos voltar em algumas semanas. É horrível! Nós também estivemos na região do acidente da Exxon-Valdez [vazamento de petróleo ocorrido no Alasca, em 1989], e óleo ainda está lá, as pessoas continuam com problemas, os peixes e pássaros foram afetados e estão em processo de desaparecer. Nós encontramos uma família de orcas – a orca é minha espécie favorita em todo o planeta – que vai desaparecer porque não consegue se reproduzir mais. Agora imagina o Golfo do México, onde o vazamento foi cem, duzentas vezes maior. Nós sabemos que golfinhos estavam em época de reprodução durante o vazamento, e agora estamos encontrando muitos golfinhos bebês mortos nas praias. O mesmo com as tartarugas. Por que nós sabemos disso? Porque esses animais precisam vir à superfície para respirar. E quanto aqueles que não precisam? O que está acontecendo com os camarões, os carangueijos, as lagostas, os peixes?
ÉPOCA – A BP disse que capturou todo o óleo.
Cousteau
– Isso não é verdade.
ÉPOCA – Não?
Cousteau -
Não! E nós temos isso filmado! O óleo ainda está lá, dois anos depois. Nossa fotógrafa mergulhou na água e teve que ser tirada de lá, porque a pele dela estava queimando. Isso é efeito dos dispersantes que eles usaram, não do óleo. Esses dispersantes são proibidos na Europa! Vai levar um tempo longo para a gente saber o que aconteceu. Para piorar, ainda há pequenos vazamentos o tempo todo. Quando nós estávamos no Golfo, um dia, vimos uma explosão. Nada relacionado com as plataformas, foi um oleoduto que explodiu e pegou fogo. O petróleo estava sendo jogado no ar, 60 metros, nós filmamos isso. Nós perguntamos para a população local, e eles disseram que isso acontece o tempo todo. Enquanto isso, 40% dos peixes ou produtos marinhos dos Estados Unidos vêm daquela região. Então, a consequência imediata é que as pessoas vão adoecer, e você tem milhares, ou milhões de pessoas sem emprego. Não são apenas os pescadores. Pessoas que têm lojas, restaurantes, hotéis, o setor de pesca esportiva, turismo, estão todos parados. Ninguém fala dessas pessoas, dois anos depois ninguém mais se importa. Enquanto isso, as grande empresas de petróleo estão pegando crédito com governo. Espera um momento! Nós precisamos ajudar as pessoas!
ÉPOCA – Como o senhor deve saber, o Brasil também está explorando petróleo em águas profundas, e já ocorreram alguns vazamentos, menores que os da BP, mas…
Cousteau -
Vazamentos menores, mas
a exploração é em águas muito mais profundas do que os da BP, e em mar aberto. Bem, o que eu posso dizer? Eu acho que é um grande erro. É algo que vai tornar algumas pessoas muito ricas, mas em contrapartida vai afetar muitas pessoas. Nós precisamos começar a nos focar em outras fontes de energia. Sol, ventos, correntezas. As correntezas poderiam substituir todas essas barragens gigantescas que o Brasil resolveu contruir na Amazônia. Barragens são um absurdo, elas alagam as terras de milhares de pessoas, mas nós não nos importamos, porque essas pessoas não têm carteira de identidade, elas não são importantes. Hoje nós já temos turbinas que podem ser colocadas nos rios, que geram energia e não atrapalham a migração de peixes. Há soluções, precisamos convencer aqueles que tomam as decisões a adotar essas soluções.
ÉPOCA – Nós falamos sobre as ações que os políticos e tomadores de decisão deveriam fazer, mas e os cidadãos? O que cada pessoa por fazer para reverter esse quadro?
Cousteau -
Todo mundo pode fazer a diferença. Você precisa começar em casa. Consumir menos água, evitar desperdício, apagar as luzes quando não estiver no quarto. No final do mês, você ainda economiza dinheiro. Tem também a reciclagem: ter a certeza de que nada vai para o ambiente, e isso é algo que todos nós podemos fazer. Algum tempo atrás, por exemplo, eu estava andando na rua e vi uma cena interessante. Um cara pegou um maço de cigarro, tirou um último cigarro e jogou o maço na rua. Uma criança que estava na calçada com a mãe parou e disse: ‘senhor, o senhor deixou cair alguma coisa!’. O homem ficou tão envergonhado que ele pegou o maço do chão. Isso nós podemos fazer, ensinar as crianças: educação, educação, educação.

(Bruno Calixto)

Para ex-ministros do meio ambiente, Rio+20 corre o risco de ser irrelevante


A Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, corre o risco de ser irrelevante ou até configurar um retrocesso, na opinião de ex-ministros do meio ambiente que se reuniram nesta quarta-feira (18), em São Paulo, para lançar um documento pedindo ações mais ousadas.
O documento, chamado de “Rio mais ou menos 20″, contou com a assinatura dos ex-ministros Rubens Ricupero, Marina Silva, José Goldemberg e José Carlos de Carvalho, além de outros especialistas na área. “Frente aos desafios e urgência da agenda ambiental, há um elevado risco de que a Rio+20 seja não apenas irrelevante, mas configure um retrocesso”, diz o texto.
A iniciativa de divulgar o texto começou com o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero. Ele conta que o texto não é partidário e está aberto a adesões. Segundo Ricupero, a ideia surgiu após ver que o rascunho inicial das propostas da Rio+20, chamado “draft zero“, era decepcionante pela falta de ambição.
Uma das principais queixas dos participantes da mesa é que, segundo eles, o tema ambiental está sendo deixado de lado nas negociações. O próprio governo brasileiro estaria procurando tirar o peso das questões ambientais da conferência, ressaltado no lugar a questão social. “Nós não avançamos vinte anos para ver o Brasil voltar e querer discutir desenvolvimento sem meio ambiente”, disse Marina Silva.
Outro ponto questionado é a percepção de que o Brasil, como anfitrião, não está fazendo tudo o que poderia para tornar a Rio+20 um sucesso. “O Brasil deve atuar nas negociações internacionais como protagonista, defendendo seus interesses específicos, mas também constituindo uma força de moderação e equilíbrio”, diz o texto. A boa notícia é que os ex-ministros ainda têm esperanças de que a Rio+20 possa ser um sucesso. O caminho seria exatamente mudar a posição brasileira, fazendo o país apoiar, nas negociações internacionais, políticas e mecanismos para a economia verde.

(Bruno Calixto)

PROFESSORA ROSANE SANTOS

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